Anotações Extra Biblicos
--- Período Interbíblico --- O período inter bíblico, ou período inter testamentário, é o momento histórico que compreende o espaço de tempo entre o Antigo e o Novo Testamento. Na narrativa bíblica passaram-se cerda de quatrocentos anos entre a época de Neemias (quando o livro de Malaquias foi escrito) e o nascimento de Cristo (aproximadamente 433 – 5 a.C.). Esse período entre os dois testamentos também é chamado por muitos como os “ anos de silêncio”. Isso porque durante esse tempo não houve nenhum registro de uma palavra profética da parte de Deus para o povo de Israel. Entretanto, muitas coisas significativas ocorreram no período interbíblico. Durante esse momento histórico, pode-se dizer que o mundo descrito no Novo Testamento estava em formação. Logo, o conhecimento dos fatos ocorridos durante o período interbíblico é fundamental para um melhor entendimento do contexto histórico do Novo Testamento. Período Interbíblico de Malaquias a Cristo Recuando até o ano de 538 a.C., temos o início do período persa que durou até aproximadamente 330 a.C. Os persas conquistaram os babilônicos que, por sua vez, já haviam conquistado Jerusalém em 568 a.C. Isso acabou resultando no domínio da Pérsia sob os judeus por aproximadamente duzentos anos. Nesse período os judeus foram liderados por sumos sacerdotes, e tinham permissão para seguirem suas práticas religiosas. Nessa mesma época, por volta de 430 a.C., o profeta Malaquias exerceu seu ministério. Em 333 a.C. foi a vez das tropas persas serem derrotadas por Alexandre o Grande. Então se deu início ao período helenístico que durou entre 330 e 166 a.C. Alexandre tinha a ambição de unificar o mundo com a cultura grega. Em 323 a.C. Alexandre morreu, e seu império foi dividido entre seus generais. Dessa divisão surgiram duas dinastias: a Ptolomaica (no Egito) e a Selêucida (na Síria e na Macedônia). Por mais de cem anos essas dinastias disputaram o controle da Palestina. Enquanto os ptolomeus estavam no controle, as práticas religiosas dos judeus foram respeitadas. Porém, em 198 a.C., os selêucidas assumiram o poder, o que posteriormente resultou num período dramático e heroico da história judaica. Os primeiros anos foram tranquilos, mas em 175 a.C., quando Antíoco IV Epifânio subiu ao poder, as coisas ficaram muito complicadas. Antíoco IV Epifânio tentou impor um tipo de helenização radical, cometendo grandes atrocidades. Ele tinha o objetivo de acabar de vez com a religião judaica. Entre algumas coisas que ele fez, podemos destacar: Proibiu elementos fundamentais dos costumes judaicos. Tentou destruir todas as cópias da Torá (os cinco livros de Moisés – Pentateuco). Exigiu que o deus grego Zeus fosse cultuado. Sacrificou um porco dentro do Templo de Jerusalém. A revolta dos Judeus no período interbíblico Matatias, um camponês idoso de família sacerdotal, juntamente com seus cinco filhos, Judas (Macabeu), Jônatas, Simão, João e Eleazar, formaram a liderança da oposição ao governo de Antíoco IV Epifânio. O conflito conhecido como Revolta dos Macabeus, durou vinte e quatro anos (166-142 a.C.). Esse conflito culminou na independência de Judá até 63 a.C. Quando Simão, último dos cinco filhos de Matatias, morreu, a dinastia dos Hasmoneus se transformou também num regime helenista, comparado ao imposto pelos Selêucidas. Entre 103 e 76 a.C., Alexandre Janeu chegou até mesmo a perseguir os fariseus. Finalmente em 63 a.C. a dinastia dos Hasmoneus chegou ao fim, numa intervenção romana na disputa entre Aristóbulo II e Hircano II, filhos de Janeu. A dominação romana se iniciou de forma muito traumática para os judeus. O general Pompeu, que conquistou o Oriente para Roma, tomou Jerusalém e acabou massacrando sacerdotes e profanando o Lugar Santíssimo, após ter sitiado a área do Templo por cerca de três meses. A literatura no período intertestamentário Embora esse período interbíblico tenha sido marcado por turbulências e conflitos, muito material literário foi produzido pelos judeus durante esses anos, desde textos históricos até obras apocalípticas. Certamente as três principais obras desse período foram: a Septuaginta, os Apócrifos e os Manuscritos do Mar Morto. A Septuaginta é a versão grega do Antigo Testamento, também conhecida pelo algarismo romano LXX. Ela possui esse nome porque, segundo as tradições judaicas, setenta e dois estudiosos teriam se reunido na Ilha de Faros, próximo à cidade de Alexandria, para traduzir o Antigo Testamento para o grego. Isso teria ocorrido num prazo de setenta e dois dias. Entretanto, acredita-se que apenas a Torá (os cinco livros de Moisés) tenha sido traduzida nesse período. Já os demais livros do Antigo Testamento, juntamente com alguns outros livros não canônicos, foram incluídos na Septuaginta em algum momento antes do início da era cristã. A Septuaginta se tornou a Bíblia dos judeus fora da Palestina. Isso seu deu principalmente pelo fato de que muitos deles já não falavam mais o hebraico. Posteriormente a Septuaginta também se tornou a Bíblia mais usada pela Igreja Primitiva. Embora a Septuaginta tenha sido produzida por volta de 250 a.C., pode-se dizer que as ações de Alexandre o Grande entre 333 e 323 a.C., quando incentivou os judeus a se mudarem para Alexandria dando-lhes até mesmo alguns privilégios comuns aos cidadãos gregos, preparam o caminho para que esse projeto fosse realizado. Os Livros Apócrifos também foram escritos nesse período intertestamentário, com exceção de 2 Esdras que, provavelmente, data de 90 d.C. Os chamados “Apócrifos” constituem uma coletânea de livros juntamente com mais alguns acréscimos de textos aos livros canônicos. Por um lado, sem dúvida essa obra possui sua importância como fonte de informação para o estudo do período entre os dois Testamentos. Mas por outro lado, os Livros Apócrifos não apresentam nenhum valor doutrinário, além de conter erros cronológicos e várias ideias conflitantes com os textos canônicos. Os Manuscritos do Mar Morto são documentos e fragmentos encontrados em 1947 em uma caverna nas colinas da costa sudoeste do Mar Morto. Esse material incluía: livros do Antigo Testamento; alguns dos Apócrifos; livros pseudoepígrafos (textos escritos por autores que se faziam passar por personagens importantes da Antiguidade); obras apocalípticas; e vários outros livros específicos da seita que os produziu. A sociedade no período intertestamentário Nesse período entre o Antigo e o Novo Testamento, as grandes mudanças que ocorreram resultaram na sociedade judaica descrita nos tempos de Jesus. Um dos movimentos mais significativos dessa época foi a Diáspora (ou Dispersão). Embora tenha começado no exílio, foi no período interbíblico que a Diáspora realmente ganhou força, espalhando o povo judeu até mesmo para as terras mais longínquas. Esse período também foi marcado pelo surgimento de grupos políticos e religiosos que foram muito atuantes no primeiro século. Entre esses grupos destacam-se: os saduceus, os essênios e os fariseus. Foi no período interbíblico que o conceito de Sinagoga se solidificou ainda mais. Durante o período do exílio na Babilônia , o povo de Israel não tinha mais aceso ao Templo, além de ser confrontado por práticas religiosas pagãs que ameaçavam a continuação da religião judaica. Diante dessa realidade os judeus se concentraram em preservar o que possuíam, no caso a Torá e a convicção de que eram o povo de Deus. (Parenteses: O cativeiro babilônico é uma referência ao tempo em que o povo hebreu do reino de Judá ficou exilado sob o domínio do Império Babilônico. O exílio dos judeus na Babilônia se deu, principalmente, por sua rebeldia e apostasia frente aos mandamentos de Deus. Os judeus se afastaram e se esqueceram de Deus, ignorando também os profetas que anunciaram o arrependimento. O cativeiro na Bíblia A Bíblia descreve outras nações, além de Israel, sendo submetidas a cativeiros. Basicamente o cativeiro consistia na prática de uma nação vitoriosa selecionar entre os habitantes da nação derrotada prisioneiros para servirem como escravos, ou, no caso das mulheres, como esposas e concubinas. Geralmente quando uma nação era derrotada, seu território era arrasado e a maioria dos seus cidadãos mortos. Aqueles que sobravam, conviviam com a dor da separação de sua terra natal e com o desespero de não contarem mais com a proteção de seu deus local. Na verdade quando uma nação era capturada por outra, as pessoas acreditavam que isso significava que a divindade daquela nação também havia sido derrotada (cf. Is 52:2-5; Jr 50:29). Foram os assírios que começaram a utilizar a deportação como a maneira principal de lidar com cidadãos de nações subjulgadas. Ao dominarem um determinado reino, eles capturavam seus habitantes e os realocavam em outra parte do império. Tal como os assírios, os babilônicos também usaram a mesma técnica. Os cativeiros de Israel Na história do povo de Israel, existem várias ocasiões em que os hebreus estiveram longe de sua terra . Se considerarmos o período que ficaram no Egito como um tipo de cativeiro, já que não tinham permissão para partirem, então desde antes de se estabelecerem na Palestina os israelitas já experimentaram essa realidade. Assim, podemos entender que a Bíblia menciona três grandes cativeiros que o povo de Israel precisou enfrentar: o cativeiro no Egito (apesar de haver algumas distinções com os demais), o cativeiro na Assíria e o cativeiro na Babilônia. Desde muito antes das grandes quedas frente à Assíria e a Babilônia, alguns hebreus já eram levados cativos em algumas situações. Um exemplo disto é a própria invasão do Faraó Sisaque a Palestina em aproximadamente 930 a.C. (1Rs 14:25-28). Mais tarde, em aproximadamente 733 a.C., os membros das tribos de Naftali, Ruben, Gade e alguns de Manassés, também foram levados para a Assíria (2Rs 15:29; 1Cr 5:26). No entanto, foi em aproximadamente 722 a.C. que a cidade de Samaria caiu frente ao domínio da Assíria de Sargão II . Lembrando que naquela época o reino de Israel já havia sido dividido em reino do norte, Israel, e reino do sul, Judá. Saiba mais sobre os reis de Israel e reis de Judá . Samaria era a capital do reino do norte, portanto sua queda representava uma derrota total para Israel. Documentos assírios indicam que pelo menos 27.290 israelitas foram deportados para outras cidades, como Hala e as cidades dos medos (cf. Ob 1:20; 2Rs 17:6; 18:11). Vale ressaltar que o cativeiro imposto ao povo de Israel era a consequência da idolatria que praticaram ao adorarem deuses pagãos. Esse comportamento atraiu o castigo do Senhor sobre eles (2Rs 17:7-23). O cativeiro na Babilônia Após cerca de 135 anos da queda de Samaria e do exílio imposto aos habitantes do reino do norte, em 586 a.C. foi a vez do reino do sul ser derrotado, e Jerusalém cair sob o domínio de Nabucodonosor II da Babilônia (2Rs 25:1-7). Antes disso, alguns pequenos grupos já tinham sido capturados e exilados, mas a grande deportação ocorreu mesmo a partir de 587 a.C. Na verdade houve três invasões significativas de Judá por parte dos babilônicos. A primeira ocorreu em 605 a.C., quando Nabucodonosor avançou contra Jeoaquim (2Rs 24:1-24; 2Cr 36:5-7). Foi nessa invasão que o profeta Daniel e os amigos Hananias, Misael e Azarias foram levados cativos para a Babilônia. A segunda invasão ocorreu em 597 a.C. (2Rs 24:10-14) e a terceira, a maior de todas elas, ocorreu em 586 a.C. É interessante saber que dos últimos cinco reis que Judá teve, três foram levados em cativeiro, sendo: o rei Jeoacaz, para o Egito; o rei Joaquim e o rei Zedequias para a Babilônia. Contemporâneo a isso, também precisamos destacar que o profeta Jeremias, e seu escriba Baruque, foram também levados, juntamente com um grupo de judeus, para longe de Judá, na ocasião, para a terra do Egito. É verdade também que Jeremias foi levado contra sua própria vontade. O cativeiro babilônico não foi nada fácil para os judeus. Eles foram humilhados, maltratados e insultados, e a lembrança da queda de Jerusalém e da destruição do Templo esmagava-os. O Salmo 137, ao mesmo tempo em que relata a tristeza dos judeus no cativeiro babilônico , também mostra o quão distante eles estavam da presença de Deus, a ponto de nos revelar que o grande lamento daquele povo era por sua adorada Jerusalém e não por estarem arrependidos pela desobediência aos mandamentos do Senhor. No cativeiro, os judeus choraram com saudade de Jerusalém, choraram pelo Templo destruído, mas não choraram por terem se esquecido da Palavra do Senhor. Eles oraram pedindo vingança, mas não oraram pedindo perdão (Sl 137:5-9). Se o Salmo 137 nos mostra que a maioria dos judeus se recusou a cantar a canção do Senhor em uma terra estranha, o livro de Daniel nos mostra que ainda havia aqueles que compreendiam a soberania de Deus mesmo no exílio. Daniel entendia que seu Deus era o Deus de toda terra, e não apenas um tipo de divindade tribal que se resumia aos limites de Jerusalém. Em uma terra estranha, Daniel contemplou as maravilhas do Senhor e lhe foi revelado o propósito maravilhoso da vinda do Messias (Dn 9). A verdade de que o povo judeu havia se conformado, e até mesmo gostado da vida longe de sua pátria, pode ser vista no fato de que quando receberam a permissão para retornarem à Palestina apenas uma pequena porcentagem se animou com a notícia e realmente retornou. Acredita-se que na época do Novo Testamento, no século 1, mais de três milhões de judeus viviam fora da Palestina espalhados pelo Egito, Ásia Menor, Síria, Babilônia, Itália, Sicília e outras regiões do Império Romano. O período que envolve o pré-cativeiro, o cativeiro e o pós-cativeiro foi marcado por uma grande atividade literária , onde notáveis profetas do Senhor se destacaram, como: Habacuque , Ezequiel, Jeremias, Obadias , Daniel, Zacarias e Ageu . Foi nesse período também onde surgiu o conceito de sinagoga. Quanto tempo durou o cativeiro babilônico? Existe certa discussão entre os estudiosos sobre essa questão. Jeremias profetizou claramente que o exílio babilônico duraria 70 anos (Jr 25:11,12; 29:10-14). Se considerarmos a data da queda de Jerusalém até a permissão de retorno dada por Ciro, então teremos aproximadamente 50 anos. Porém, se for considerada a data da primeira invasão do rei Nabucodonosor contra Judá em 605 a.C., a qual Daniel foi levado cativo, até o decreto de Ciro, então o período estimado é muito próximo à 70 anos. Essa foi a interpretação do escritor de Crônicas e do profeta Zacarias (2Cr 36:20-23; Zc 1:12). Para quem argumenta que as datas não se encaixam com exatidão, é necessário entender que o número 70 possui um peso simbólico muito grande, ou seja, não se deve interpretá-lo apenas como uma simples cronologia. Esse princípio pode ser notado na profecia das 70 semanas de Daniel (Dn 9), onde essa profecia inicial de 70 anos foi estendida sete vezes devido à falta de penitência do povo no exílio. ...Fecha Parenteses) Essa forma de culto era fundamentada no estudo da Torá, na piedade pessoal e na oração, como forma de substituir os sacrifícios que não podiam mais ser oferecidos. Logo, o judaísmo podia ser praticado em qualquer lugar onde fosse possível levar a Torá. Esse conceito foi preservado após o exílio, e a reunião em Sinagogas, que eram os locais onde as pessoas se reunião para cultuar a Deus, tornou-se bastante popular. Cronologia do período interbíblico Abaixo temos uma linha do tempo com os principais acontecimentos que ocorreram no período entre os Testamentos: 333-323 a.C. | Domínio de Alexandre o Grande. 323-198 a.C. | Os Ptolomeus dominam a Palestina. 320 a.C. | Jerusalém é conquistada por Ptolomeu I Soter. 311 a.C. | Início da dinastia Selêucida. 226 a.C. | Antíoco III conquista a Terra Santa. 223-187 a.C. | Antíoco se torna o governante Selêucida da Síria. 198 a.C. | Antíoco derrota o Egito e obtém o controle da Terra Santa. 198-166 a.C. | Governo dos Selêucidas sobre a Palestina. 175-164 a.C. | Antíoco IV Epífanio governa a Síria e o judaísmo é proibido. 167 a.C. | Matatias e seus filhos lideram a rebelião contra Antíoco IV. 166-160 a.C. | Judas Macabeu lidera. 165 a.C. | Rededicação do Templo. 160-143 a.C. | O sumo sacerdócio é exercido por Jônatas, filho de Matatias. 142-134 a.C. | Simão, filho de Matatias, se torna sumo sacerdote e começa a dinastia dos Hasmoneus. 134-103 a.C. | O estado independente judeu é expandido com João Hircano. 104-103 a.C. | Governo de Aristóbulo. 103-76 a.C. | Governo de Alexandre Janeu. 76-67 a.C. | Governo de Salomé Alexandra, e Hircano II é o sumo sacerdote. 66-63 a.C. | Conflito entre Aristóbulo II e Hircano II. 63 a.C. | Começa o domínio romano, com Pompeu invadindo a Terra Santa. 63-40 a.C. | Governo de Hircano II sob o controle de Roma. 48 a.C. | Júlio César derrota Pompeu. 44 a.C. | Assassinato de Júlio Cesár. 40-37 a.C. | Antígono governa sob os romanos. 37-4 a.C. | Herodes se torna governante da Terra Santa. 27 a.C. | César Augusto (Otaviano) governa o Império Romano. 19 a.C. | A construção do Templo de Herodes é iniciada. 4 a.C. | Herodes morre e Arquelau governa em seu lugar.
notes